Israel e Hamas assinam acordo e podem encerrar dois anos de guerra em Gaza
Mediado por Catar, Egito e Turquia, pacto prevê libertação de reféns e ajuda humanitária; cessar-fogo é alívio para Gaza, mas não redime o papel dos EUA na tragédia
Publicado 09/10/2025 12:40 | Editado 09/10/2025 19:11
Foto: ReproduçãoIsrael e Hamas assinaram nesta quinta-feira (9) um acordo de cessar-fogo que encerra dois anos de bombardeios e fome na Faixa de Gaza, com saldo superior a 67 mil palestinos mortos.
O pacto, mediado por Catar, Egito, Turquia e Estados Unidos, prevê a libertação de reféns israelenses em troca de cerca de dois mil prisioneiros palestinos, além da entrada imediata de comboios com alimentos e medicamentos.
A assinatura ocorreu em Sharm el-Sheikh, no Egito, após semanas de negociações indiretas.
Pelo texto, as forças israelenses devem iniciar uma retirada parcial do território e suspender as operações militares enquanto o Hamas liberta os reféns que ainda permanecem em cativeiro desde os ataques de outubro de 2023.
Segundo autoridades envolvidas nas tratativas, a trégua será efetiva após ratificação do gabinete israelense, prevista ainda para esta quinta-feira (9).
Em Gaza, moradores celebraram o fim dos bombardeios e a promessa de que os caminhões de ajuda humanitária finalmente cruzarão as fronteiras; em Tel Aviv, famílias dos reféns se reuniram na chamada Praça dos Reféns, entre lágrimas e alívio, após dois anos de mobilizações.
“Graças a Deus pelo fim do derramamento de sangue”, disse um morador de Khan Younis, no sul do enclave. “Toda a Faixa de Gaza está feliz.”
Ainda há, porém, incertezas. A lista de prisioneiros palestinos a serem libertos não foi concluída, e o destino de dezenas de reféns continua indefinido.
Também não há consenso sobre o futuro político de Gaza nem sobre o papel do Hamas na administração do território. O acordo, por ora, representa apenas o primeiro passo de uma negociação frágil e dependente de garantias internacionais.
Trump busca capital político, mas EUA são parte da tragédia
O anúncio do cessar-fogo foi apresentado por Donald Trump como uma vitória pessoal e um “grande dia para o mundo”, mas o desfecho em Gaza está longe de redimir o papel dos Estados Unidos no conflito.
Desde o início da guerra, Washington forneceu armas, cobertura diplomática e veto sistemático a resoluções da ONU que exigiam o fim dos ataques e a proteção de civis.
Mesmo após a escalada que destruiu bairros inteiros e matou milhares de crianças, o governo norte-americano manteve a assistência militar a Israel, transformando o país no principal fiador político de Benjamin Netanyahu.
Sob a justificativa de combater o “terrorismo”, Washington legitimou uma ofensiva reconhecida por organismos internacionais como genocídio e bloqueou iniciativas de investigação no Tribunal Penal Internacional.
Trump tenta agora converter o cessar-fogo em capital político, projetando-se como mediador da paz num conflito que seu próprio governo alimentou.
O acordo, que prevê a libertação de reféns e prisioneiros, ocorre dois anos e um dia após os ataques de 7 de outubro de 2023 — data usada por Trump como símbolo de seu retorno à arena internacional.
Ainda assim, nenhuma retórica pacificadora apaga o fato de que os Estados Unidos financiaram as armas, protegeram a impunidade israelense e isolaram a Palestina nas instâncias multilaterais.
Enquanto se apresenta como “pacificador”, Trump carrega a contradição de ter punido juízes e procuradores do TPI que investigavam crimes de guerra cometidos em Gaza. Essa política de hostilidade às instituições internacionais tornou possível o prolongamento do conflito e o agravamento da catástrofe humanitária que agora tenta capitalizar politicamente.
Acordo é alívio humanitário, não absolvição
O cessar-fogo representa um alívio imediato para uma população devastada por dois anos de ataques, fome e deslocamentos forçados.
Milhares de famílias que viviam em tendas aguardam a chegada de caminhões com alimentos e suprimentos médicos. O texto do acordo prevê que o fluxo de ajuda seja monitorado por países mediadores e que as tropas israelenses recuem a uma linha previamente acordada, o que deve abrir espaço para a reconstrução de Gaza e para a retomada dos serviços básicos.
A libertação dos reféns israelenses e dos prisioneiros palestinos é parte central da trégua, mas o pacto não encerra as causas estruturais do conflito.
Gaza permanece sob bloqueio, e Israel conserva o controle militar e econômico do território. A reconstrução dependerá da atuação efetiva de organismos humanitários e do compromisso da comunidade internacional em evitar novas violações.



