INIMIZADE SOCIAL
O Papa Francisco foi de uma inteligência e de um vislumbre formidáveis quando lançou a Campanha da Fraternidade deste ano e usou o tema “Fraternidade. Amizade Social”. Onde está a grande sacada papal? Exatamente baseada no mundo de acontecimentos que se fizeram presentes a partir de um determinado momento político, que quero acreditar não ter sido somente do Brasil, mas bastante generalizado fazendo com que as discussões saíssem das meras trocas de opiniões para verdadeiras agressões que extrapolaram a linha política para o tratamento pessoal.
Amigos de muitos anos tornaram-se inimigos apenas por não concordarem com posições puramente políticas ou partidárias, coisas que jamais aconteciam em outros tempos. Famílias criaram dissenções horrorosas colocando parentes bem próximos uns contra os outros por uma simples referência ao lado que lhes eram contrários. Algo inusitado jamais visto na sociedade brasileira e que deixou marcas e mágoas profundas.
Se, no entanto, fosse apenas um episódio que passou mas não foi. Um episódio que se transformou em capítulos, que criou tensões, desamores, até ódios. Algo que, nós família brasileira jamais pudéssemos supor que acontecesse. Não havia separação do joio e do trigo. Havia uma grande mistura e que continua crescendo celeremente porque o tema não acabou. A luta dos que querem continuar brigando não acabou. Os dedos em riste na defesa desta ou daquela ideia ultrapassou a barreira do equilíbrio e entrou no perigoso mundo da falta de bom senso, o que leva a todos para “mares nunca dantes navegados”. E aqui abro um parênteses para dizer que os excessos, os mal feitos, as acusações fundadas ou não, a própria falta de educação e de decoro pessoal acontecia ou acontece ainda com pessoas representantes do dois lados. Tanto faz como tanto fez essa nova fase de tratar política com radicalismo e agressividade e que teve um crescimento generalizado por não haver diálogo. Por não haver paciência, por não saberem ouvir, por não respeitarem-se e sobretudo por não entenderem que o direito de opinião termina quando começa o do outro.
O próprio Papa disse pregar a “amizade social” como fórmula correta para tentar diminuir a força dessa incrível onda que assola o mundo de um modo geral. É preciso que as pessoas escutem-se, exerçam o poder da palavra e do amor com sabedoria. É preciso que temas e pessoas sejam debatidos de várias maneiras, mas sobretudo com habilidade e exatamente para que não sejam provocadas as chamadas ondas de histeria, de radicalismo e de convulsões entre pessoas que sempre se deram bem, mas colocaram entre elas temas que deveriam apenas fazer parte de suas intenções boas, mas nunca de brigas e desavenças.
Longe de colocar aqui os aspectos religiosos, a presença da Santa Sé, respeitando as demais religiões e sabendo também que elas são a favor da paz individual e coletiva tenho no entanto a convicção de que o povo brasileiro é realmente pacífico e que estará se ajudando a não permitir exageros nas emissões de opinião. Opinião é para ser dada com simplicidade e com diálogo. Opinião com violência, seja verbal ou física transcende os muros da civilidade e é exatamente aí que acho o pensamento do Papa ao levar à frente a tese da campanha da fraternidade deste ano. O convívio, o diálogo entre os povos, sejam iguais ou diferentes, mas sempre o velho diálogo. A colocação de ideias, as mais diversas, sem imposição, mas com análises de ambos os lados.
Vamos aproveitar o tema feliz e pensar. Pensar muito. Sem pieguices, sem religião. Simplesmente pensar. E agir, claro. Para que não se criem mais “inimizades sociais”.
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BARTPAPO COM GERALDO CÂMARA
SOBRE
Jornalista, apresentador do programa Bartpapo na Band Maceió e Diretor de Comunicação do Tribunal de Contas de Alagoas