Mesmo com a prorrogação da Campanha de Vacinação contra a Influenza até a sexta-feira (22), Alagoas já ultrapassou a meta de 90% estabelecida pelo Ministério da Saúde (MS). Até às 16h20 desta segunda-feira (18), segundo o Programa Nacional de Imunização (PNI), o Estado já havia imunizado 91,37% do público-alvo, o que corresponde a 622.593 pessoas.
Dos nove estados do Nordeste, apenas Alagoas e o Ceará (94,61) já atingiram a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde. Ainda de acordo com o PNI, 99,24% das puérperas; 99,22% dos indígenas; 99,62% dos idosos; 101,09% dos professores; 98,24% dos trabalhadores de saúde, 79,72% das crianças e 84,80% das gestantes se vacinaram. Já para os servidores do sistema prisional, adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, população privada de liberdade e portadores de doenças crônicas não há meta pré-estabelecida.
Este ano, o público alvo da Campanha de Vacinação contra a Influenza são as crianças na faixa etária de seis meses a menores de cinco anos de idade (4 anos, 11 meses e 29 dias), gestantes e puérperas (até 45 dias após o parto). Ainda estão entre os contemplados os trabalhadores de saúde e os professores das escolas públicas e privadas, bem como, os indivíduos com 60 anos de idade ou mais.
Também fazem parte do grupo a ser vacinado os servidores do sistema prisional, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade que cumprem medidas socioeducativas e a população privada de liberdade. O público-alvo da campanha contempla, ainda, os portadores de doenças crônicas não transmissíveis e os povos indígenas.
Pré-requisitos
Para se vacinar, os integrantes do público alvo devem comparecer aos postos de saúde espalhados nos 102 municípios do Estado, segundo a assessora do PNI em Alagoas, Denise Castro.
“Quem ainda não se vacinou deve levar o cartão de vacinação e não perder a oportunidade de se prevenir contra a H1N1, H3N2 e Infuenza B”, recomendou, ao acrescentar que a única contra indicação é para os que têm alergia à proteína do ovo de galinha e seus derivados.
A Campanha de Vacinação contra a Influenza 2018 foi prorrogada até o dia 15 de junho conforme anunciou o Ministério da Saúde (MS) na última terça-feira (29). Até as 17h de quarta-feira (30), Alagoas já havia imunizado 537.790 pessoas, o que corresponde a 78,92% do público-alvo, que é de 681.389 pessoas, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).
A data de prorrogação para o último dia da vacina estava marcada para a próxima sexta-feira (1ª), mas foi alterada devido à greve dos caminhoneiros em todo o país. Segundo o MS, o protesto dos caminhoneiros deixou inviável o deslocamento de profissionais para a vacinação de pessoas do grupo de risco em áreas de difícil acesso.
De acordo com dados da Sesau, a cobertura vacinal no Estado superou a brasileira, de apenas 66% (35.654.856).
No ranking entre os estados do Nordeste, Alagoas está na segunda colocação de melhor cobertura vacinal. A primeira colocação está com o Ceará (87,31%), Alagoas (78,92%), Sergipe (76,08%) Paraíba (75,90%), Rio Grande do Norte (75,33%), Maranhão (72,90%), Pernambuco (72,23%), Piauí (70,75%) e última colocação fica o estado da Bahia (69,28%)
Já na capital alagoana, a meta de vacinação é de um total de 226.740 pessoas, ou seja, 90% do público-alvo. Até o último fim de semana, a cobertura alcançou 68,26% com 155 mil pessoas de todos os grupos imunizadas segundo informa a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
A SMS ressalta que se o público-alvo não comparecer ao período de campanha e o número de imunizados não for alcançado, é possível que venha a ocorrer novamente à disponibilização das doses que sobrarem para a população que está fora dos grupos prioritários. “Essa decisão, no entanto, será tomada em nível nacional, e apenas por parte do Ministério da Saúde. Por enquanto, todos os esforços em torno da imunização contra a Influenza continuam voltados ao grupo prioritário”, explica.
De acordo com o Ministério da Saúde, 100% das doses da vacina (60 milhões) já foram distribuídas aos estados, que estão devidamente abastecidos.
ATENDIMENTO
Em todas as unidades de saúde da capital, o atendimento acontece das 8h às 17h. Hoje (31), a vacinação ocorre nos três shoppings da capital, Maceió Shopping (Mangabeiras), Parque Shopping (Cruz das Almas) e Pátio Maceió (Benedito Bentes), de 10h às 21h, e na Loja Carajás, o atendimento será realizado de 10h às 16h. As unidades de saúde estarão fechadas devido ao feriado, mas retornam ao atendimento normal na sexta-feira.
Hoje dia 24 de maio, é celebrado o Dia Mundial da Esquizofrenia. A data já faz parte do calendário de diversos países e busca conscientizar a sociedade sobre o desafio de tratar a doença, colocando o paciente em destaque. Terapias inovadoras, parceria com terapeutas e pacientes e tratamento multiprofissional, vêm tornando cada vez mais obsoletos os conceitos de que a esquizofrenia é uma doença incapacitante. Termos como “devastadora”, “debilitante”, “irreversível” e “progressiva” não se adequam para definir um transtorno que pode apresentar múltiplos desfechos. Estudos recentes vêm demonstrando que a implementação de estratégias modificadoras da doença é capaz de alterar o curso da esquizofrenia para resultados favoráveis.
Pensando nisso, uma aliança entre a Janssen, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por meio do Programa de Esquizofrenia (Proesq), a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre) e o grupo Mãos de Mães reúne no Dia pela Conscientização ou Atenção à Esquizofrenia, médicos, especialistas, cuidadores, enfermeiros e familiares de pacientes para discutirem a doença que tanto desafia a medicina.
Com o mote “O que eu posso fazer?”, o objetivo da iniciativa é conhecer as principais dificuldades e as diferentes opiniões e apontar possíveis propostas de novas ações, unindo as pessoas pela causa. Além disso, a ação pretende entender e discutir a redução das barreiras do estigma e criar oportunidades de superação e aumento da esperança sobre o desfecho dessa doença.
O psiquiatra Bruno Ortiz, da Universidade Federal de São Paulo e coordenador de pesquisa do Proesq, explica que nas últimas décadas, houve grande avanço no tratamento da esquizofrenia. “O tratamento de longa duração controla a crise na fase aguda da doença e ajuda a prevenir recaídas. Além disso, os estudos recentes mostram que o tratamento da esquizofrenia deve ser conduzido para a remissão sustentada dos sintomas. Garantir a ausência de recaídas, mesmo que leves, contribui e muito para a recuperação do paciente. A recuperação se dá por ganhos progressivos na funcionalidade. Por essa razão é fundamental que o paciente esteja continuamente estável dos sintomas”, diz Ortiz.
O médico ressalta ainda que o desfecho a longo prazo da esquizofrenia pode tomar diferentes direções. “Não há nenhum tipo de exame de laboratório que permita confirmar o diagnóstico de esquizofrenia, e a melhora dos sintomas pode ocorrer em qualquer fase, sendo a mais favorável o primeiro episódio. Atualmente as medicações de longa duração acabam sendo restritas aos pacientes que apresentaram múltiplas recaídas como se fosse a última alternativa. Contudo, medicações de longa duração também podem ser indicadas para pacientes em primeiro episódio que retornam às suas atividades funcionais”.
A puberdade nem sempre é um período tranquilo na vida das adolescentes. As mudanças hormonais promovem o amadurecimento dos órgãos sexuais para as meninas, levando à primeira menstruação. Além do sangramento mensal e da acne a adolescente pode começar a ter cólicas, que, apesar de considerada pela maioria das mulheres como algo normal, pode ser um sinal da endometriose, doença que afeta até 7 milhões de brasileiras, conforme estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por ouvir de suas mães, amigas e inclusive dos médicos que ter cólica e desconfortos durante o período menstrual é natural, as jovens pode levar em torno de 7 anos para diagnosticar a doença. E o que é mais preocupante: quando os sintomas de cólica começam na adolescência esta demora para o diagnóstico pode durar 11 a 12 anos. Para a terapeuta ocupacional, Marília Gabriela Marques, foram mais ou menos 11 anos e 8 ginecologistas até o diagnóstico correto. “Na minha adolescência sempre tive cólicas e sempre ouvia das pessoas que era normal, que quando eu casasse ou tivesse filhos, passaria”, conta. “Muita gente me dizia inclusive que era frescura”.
O especialista Dr. Maurício Simões Abrão, professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e responsável pelo Setor de Endometriose do Hospital das Clínicas, explica que o útero da mulher é revestido internamente por uma espécie de película chamada endométrio que, quando a mulher engravida, é responsável receber o óvulo fecundado. Durante o período menstrual, o endométrio é renovado e descama, sendo eliminado do corpo em forma de menstruação.
“A paciente com endometriose apresenta endométrio implantado fora do útero, ou seja, podendo infiltrar outras estruturas, como por exemplo, os ovários e os ligamentos ao redor do útero. Em casos graves, o endométrio pode aderir inclusive a outros órgãos, como a bexiga e o intestino”, reforça. O que causa a dor extrema característica da endometriose é que, assim como o endométrio, estes implantes também se inflamam durante o período menstrual, podendo causar dores e até infertilidade.
A relação de normalidade entre o período menstrual e as cólicas pode ser indicada como um motivo para 53% das brasileiras desconhecerem a doença, conforme aponta uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), em parceria com a Bayer. No entanto, é necessário estar atenta a sinais importantes da endometriose que se manifestam já na adolescência:
Dores incapacitantes e persistentes durante todo o período menstrual e fora dele;
Dor pélvica inclusive durante a relação sexual;
Dificuldade e dor para evacuar.
Dores para urinar durante a menstruação
Ao identificar esses sinais, o mais indicado é procurar um ginecologista e solicitar a investigação do quadro. Exames como o ultrassom transvaginal e de abdômen podem auxiliar no diagnóstico precoce e definição do tratamento ideal. “Quanto antes for detectada e tratada, melhor o controle sobre a endometriose, embora não tenha cura, a rapidez no diagnóstico evita as complicações da doença e inclusive que a paciente passe por tratamentos mais agressivos, além de preservar a fertilidade”, ressalta o especialista. Dr Abrão salienta ainda que no Brasil foram desenvolvidas formas de se fazer o diagnóstico da doença por Ultrassom com preparo intestinal, que tem sido muito útil para a definição do tratamento a ser realizado.
Marília relembra o longo caminho que percorreu antes de saber que tinha uma doença: “antes mesmo do diagnóstico, já tive que lidar com os efeitos da endometriose. Passei por 5 cirurgias e tive as duas trompas retiradas, passei 5 anos afastada do meu trabalho e da minha vida. Se eu tivesse a informação que eu tenho hoje, com certeza tudo teria sido diferente”. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, a doença pode afetar 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva, ou seja, dos 12 aos 50 anos.
Tenho endometriose, e agora?
Por se manifestar de diversas maneiras, cada quadro de endometriose deve ser estudado de forma individual para definir a melhor linha de tratamento. “Há pacientes que não apresentam focos de endométrio fora do sistema reprodutor, então nesses casos podemos pensar em controlar os sintomas com o uso de métodos contraceptivos como a pílula e o DIU Mirena e, inclusive, suspender a menstruação”, explica o especialista.
Em casos mais graves da doença, em que a mulher apresenta endométrio na cavidade abdominal ou outros órgãos, por exemplo, pode ser necessário realizar cirurgias, como explica Dr. Abrão: “Esses casos são especialmente delicados, porque o plano cirúrgico vai depender de onde está o foco de endometriose, por isso precisam ser estudados de perto”.
Embora a doença não tenha cura, é possível controlá-la. Para isso, é imprescindível realizar exames e visitas periódicas ao ginecologista para acompanhar a progressão da doença e a efetividade do tratamento. Uma das opções de tratamento disponíveis no Brasil é o Allurene® (dienogeste), primeiro tratamento clínico de longo prazo, ministrado por via oral com dose única diária, indicado especificamente para endometriose.
O gerontólogo Paulo Renato Canineu, doutor pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, responde às principais dúvidas sobre a doença de Alzheimer. O especialista alerta para o principal problema que cerca a doença: a dificuldade em identificá-la precocemente. Segundo a geriatra Helen Arruda, o principal problema é que os sintomas iniciais são vistos como “normais entre idosos”, o que acaba retardando o tratamento para retardar o seu avanço.
1 - Quais os sintomas iniciais da doença de Alzheimer?
Prof. Dr. Paulo Canineu: Os principais sintomas são alteração da memória recente e confusão em relação aos próprios hábitos, como dificuldade em realizar atividades diárias e problemas comportamentais (ansiedade e depressão). Como os sintomas podem passar despercebidos, é importante que os familiares ou amigos possam ajudar a identificar os sinais.
2 - Existem formas prevenção?
A doença de Alzheimer não tem cura, mas já se conhecem alguns fatores de risco como obesidade, vida sedentária, ansiedade excessiva, pressão arterial elevada e alterações do metabolismo (gorduras, açúcar). O mais importante para a prevenção é manter o funcionamento cerebral com novos aprendizados e mantendo-se sempre ocupado. Não se deve nunca aposentar o cérebro.
3 - Qual a importância do diagnóstico precoce?
Quanto mais tempo se leva para diagnosticar, mais tecido cerebral é comprometido. Quanto mais a doença evolui, mais alterações cognitivas se instalam, a exemplo da alteração de memória, concentração e da capacidade executiva, afetando a funcionalidade e o comportamento como um todo.
4 - É possível evitar o avanço da doença?
Se a doença de Alzheimer for descoberta precocemente é possível desacelerar seu avanço usando recursos medicamentosos ou não. Essas são atividades de orientação cognitiva com o uso racional do cérebro, treinamentos de memória, repetição de atividades intelectuais anteriores, orientação sobre a realidade, validação dos aprendizados anteriores, orientação nutricional, física e psicológica.
5 - As causas da doença de Alzheimer já são conhecidas?
Não conhecemos ainda as causas da doença, mas os mecanismos já são conhecidos pela ciência. No entanto, podemos atuar nos conhecidos fatores de risco. Em dois deles não podemos atuar: a idade e a própria hereditariedade. Além de impedir os fatores de risco cardiovasculares e cerebrais, deve-se evitar o isolamento social. Ao longo da vida é importante tratar os estados depressivos e de ansiedade.
6 - De que forma o indivíduo pode diferenciar um esquecimento comum da doença de Alzheimer?
O esquecimento é normal em qualquer idade em função da ansiedade do excesso de tarefas. Porém, pode ser sintoma da doença de Alzheimer quando o esquecimento é progressivo e a pessoa tem dificuldade em realizar atividades diárias.
7 - A doença possui um perfil definido?
A prevalência acontece principalmente a partir de qual idade?
Atinge aos dois sexos. Porém, como as mulheres vivem mais, a frequência maior é justamente nesta população. Estima-se que 7% da população mundial acima de 60 anos sofram de demência. Dessas, 40% a 70% podem ter a doença de Alzheimer.
8 - Quais os tratamentos disponíveis?
Existem dois tipos de tratamento: o medicamentoso e o clínico, este último envolvendo orientação nutricional, psicológica e atividades cognitivas.
O crepúsculo do Ocidente – Anatomia de uma crise anunciada
Passagem de uma ordem unipolar para um sistema multipolar mais complexo, fragmentado e contestado traz mais incertezas e riscos. Contudo, carrega o potencial de ser mais justa e representativa.
Fundado em 2004, o Clube de Discussão Valdai tornou-se um dos principais fóruns de reflexão em política internacional com base na Rússia. Embora frequentemente descrito por críticos como um instrumento de projeção da visão do mundo russo, reúne anualmente acadêmicos, formuladores de políticas e intelectuais de todo o globo para debater os desafios mais urgentes da ordem internacional.
Desde 2014, o Valdai ampliou seu escopo para além da “explicação da Rússia ao mundo”, buscando promover o diálogo entre elevadas mentes intelectuais globais e contribuir para respostas qualificadas aos desafios do sistema internacional.
A 22ª edição ocorreu na cidade de Sochi, Rússia, entre 29 de setembro e 2 de outubro, estabelecendo como lema “O Mundo Policêntrico: Instruções de Uso”, uma constatação do que para muitos já se tornou uma realidade: vivemos no mundo multipolar, ainda que em uma longa e dolorosa travessia. “É preciso saber (con)viver”
A principal conferência contou com 140 participantes de 42 países, incluindo Argélia, Brasil, China, Egito, Etiópia, Alemanha, Índia, Indonésia, Irã, Cazaquistão, Malásia, Paquistão, Rússia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos, Uzbequistão e Venezuela. O presidente Vladimir Putin, presente desde a fundação do Clube, continua a ser a figura central do evento, não apenas por seu peso geopolítico, mas por suas análises abrangentes do tabuleiro global. (Esse tema, merece, por si só, um artigo à parte)
Li alguns materiais produzidos e acessíveis na seção/aba da 22ª Reunião no site do Clube Valdai (1), sendo que quatro deles concentraram maior atenção, cito-os: “O Século XXI Começou?”, de Andrey Bystritsky (2); “Mudanças Tectônicas na Geopolítica: Não Estamos Mais no Kansas”, de Paulo Nogueira Batista Jr; (3) “Multipolaridade e o Sistema Internacional da Carta”, de Richard Sakwa (4); e “Dr. Caos – Ou: Como Parar de se Preocupar e Amar a Desordem” (5), relatório elaborado por seis pesquisadores/diretores do Valdai.
A seguir embarco no que considero as ideias centrais do pensamento dos seus autores e divido com vocês minhas percepções primárias.
O mundo mudou
Vivemos um tempo em que o discurso do “fim da história”, tão propagado nos anos 1990, revelou-se apenas como uma ilusão. O que assistimos hoje não é uma revolução provocada por potências externas contra o Ocidente, mas, sim, o resultado de um processo de implosão.
A democracia liberal, que por décadas foi vendida como um ideal universal, perde não só força fora de suas fronteiras como se desgasta por dentro, corroída por suas próprias contradições, como a supremacia de um discurso de liberdade individual em conflito com a vigilância em massa.
A crise que atravessam os Estados Unidos e a Europa não nasce da ascensão da China, da Rússia ou mesmo dos BRICS – ela brota do esgotamento de um modelo que já não atende seus povos nem sustenta o peso de suas promessas.
Esse “crepúsculo do Ocidente” é, ao mesmo tempo, a queda de um mito e a abertura de um novo capítulo: o advento do mundo multipolar.
O mito liberal em frangalhos
A chamada “ordem mundial liberal” nunca foi um consenso universal. Nasceu do pós-Guerra Fria como um arranjo para consolidar o domínio ocidental.
Hoje, quando essa retórica já não se sustenta, observa-se a fragilidade de suas bases: a elite liberal, que outrora proclamava a defesa da liberdade, igualdade e democracia, tornou-se uma casta isolada, mais preocupada com a preservação de seus próprios privilégios do que com o “bem comum”.
Analistas identificam um paradoxo evidente. Em nome da liberdade, surgiram diversas restrições sob a justificativa de proteger a democracia, práticas de moderação de conteúdo em plataformas digitais, muitas vezes acusadas de censura seletiva e exclusão tornaram-se recorrentes; além disso, o pluralismo foi substituído pela predominância da propaganda segmentada.
Como consequência, observa-se um distanciamento crescente entre governantes e governados, o que compromete a legitimidade do contrato social que sustentava o sistema.
A obsessão em dividir o mundo entre “democracias” e “autocracias” mostra o quanto o Ocidente perdeu a capacidade de compreender a complexidade do cenário global.
Essa crise de legitimidade tem epicentro nos Estados Unidos, onde os sinais do declínio se tornam cada vez mais fortes e já não podem mais ser ignorados.
A doença americana
Donald Trump não é a causa da decadência dos EUA, mas, sim, seu sintoma mais visível. Seu estilo transacional e caótico expôs ao mundo a fragilidade do que ainda se vende como “liderança global”.
Os fundamentos domésticos americanos estão corroídos: uma dívida colossal, um sistema político submetido a lobbies que compram decisões no Congresso e a perda da autoridade moral que antes era sua maior arma.
Basta lembrar da cumplicidade de Washington com guerras e massacres recentes, como o genocídio em Gaza, para perceber que a retórica dos “valores universais” se evaporou.
Ao agir de forma agressiva e unilateral, Trump não desafia uma ordem externa, mas acelera a implosão da ordem que seu país liderou, impulsionando a formação de alternativas, como os BRICS, que ganham mais coerência e coesão justamente pela incapacidade americana de articular uma ordem estável.
O vazio europeu
Do outro lado do Atlântico, a Europa enfrenta sua própria encruzilhada. Presa a uma dependência quase estrutural dos EUA, não consegue projetar um caminho autônomo.
A frase da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen – “o Ocidente como o conhecíamos não existe mais” – talvez tenha sido a confissão mais honesta de uma geração de políticos incapazes de oferecer alternativas.
A Europa está vulnerável em três dimensões:
Dependência energética e de segurança: sem os EUA, o continente não tem como sustentar um “modelo operacional viável”.
Fraqueza industrial e militar: o complexo militar europeu pensa mais em lucros corporativos do que na defesa de interesses nacionais.
Refém do conflito ucraniano: tornou-se presa de compromissos irreais, sem margem de manobra para negociar uma saída própria.
Nesse vácuo, a Europa se encolhe e acelera sua irrelevância. Em vez de aproveitar a turbulência americana para buscar estratégias próprias, dobra-se ainda mais à lógica falida da militarização.
O mundo observa
O declínio das potências ocidentais é amplamente observado no cenário internacional, onde diferentes atores acompanham o processo e participam ativamente da redefinição dos rumos globais.
A multipolaridade não é mais um ponto num futuro distante, é a realidade em plena emergência. América Latina, África e Ásia já movem as peças no tabuleiro, não como satélites, mas como atores que ditam rumos.
Pós-Ocidente: o desafio do lugar perdido
O Ocidente, que por séculos impôs sua vontade sobre o mundo, precisa agora encarar um dilema profundo: aceitar que sua era de hegemonia acabou e aprender a coexistir em pé de igualdade ou insistir em restaurar um passado que não volta mais e condenar-se à irrelevância.
Como disse Paulo Nogueira Batista Jr., o “baile dos vampiros” que simbolizou séculos de exploração e supremacia já se aproxima do final. O problema é: será que o Ocidente está disposto a aprender a dançar em um ritmo que já não dita?
Navegando em um mundo incerto
Testemunhamos uma transição histórica fundamental – a passagem de uma ordem unipolar, liderada por um Ocidente “soberbo”, para um sistema multipolar mais complexo, fragmentado e contestado.
Essa nova realidade, sem dúvida, traz mais incertezas e riscos. Contudo, ela também carrega o potencial de ser mais justa e representativa. A era em que um pequeno grupo de nações podia ditar as regras para os demais está terminando.
Em um mundo onde nenhuma potência pode impor unilateralmente sua vontade, a negociação torna-se imperativa. Este novo sistema, embora caótico, é, portanto, “de fato mais democrático” e “mais justo que seus predecessores”.
É claro, este mundo multipolar emergente não é uma panaceia. Ele traz consigo o risco de conflitos regionais não mediados, a erosão de normas humanitárias globais e a formação de esferas de influência conflitantes. No entanto, seu potencial de distribuir poder e voz de forma mais equitativa entre as nações é uma correção histórica necessária.
Estima-se que cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo sofram regularmente de ataques de enxaqueca. Na Alemanha, cerca de 1 milhão de pessoas são afetadas todos os dias, enquanto nos Estados Unidos cerca de 13% dos adultos dizem que sofrem regularmente de fortes dores de cabeça.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os ataques de enxaqueca são a sexta doença mais incapacitante do mundo. Além de uma forte dor latejante que pode durar dias seguidos, os afetados muitas vezes também experimentam distúrbios visuais, náuseas, tonturas e sensibilidade à luz.
Há muito tempo a enxaqueca tem sido vista como uma doença hereditária, transmitida de pais para filhos. No entanto, pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na cidade alemã de Leipzig, sugerem que o elo pode ser bem mais antigo.
Um estudo realizado por uma equipe liderada pelo cientista Felix-Michael Key, pesquisador em genética evolucionária do Instituto Max Plank, descobriu que uma mutação genética que tem conhecida relação com a enxaqueca é muito mais comum em pessoas da Europa ou descendentes de europeus.
“Queríamos analisar a adaptação humana a diferentes fatores ambientais e queríamos nos concentrar no efeito da temperatura”, disse Key, em entrevista à DW.
Ao estudar os padrões genéticos do gene TRPM8, receptor nas células nervosas através do qual os seres humanos sentem as temperaturas frias, Key e sua equipe descobriram que certas mutações eram muito mais frequentes em algumas regiões e latitudes geográficas.
Clima e enxaqueca
Ao fazer uma retrospectiva de dezenas de milhares de anos de dados do genoma, o estudo descobriu que a mutação genética ligada à enxaqueca é mais frequente quanto mais se avança para o norte, em direção a climas mais frios.
Por exemplo, de acordo com as descobertas de Key, apenas cerca de 5% das pessoas com ancestrais nigerianos têm a variação do gene, enquanto 88% das pessoas com ancestrais finlandeses a possuem. A OMS também aponta que o número de pessoas que sofrem de enxaquecas na África e na Ásia é menor do que em outras regiões.
“Normalmente, você observa algo em alguma frequência em uma população em algum lugar e espera que essas frequências sejam as mesmas em todas as populações”, afirma Key. “Mas aqui você tem uma mudança de frequência de quase 80%. Isso é algo muito incomum.”
Os dados sugerem, portanto, que quando os primeiros humanos viajaram da África em direção ao norte, eles se ajustaram a temperaturas mais frias, mas ao fazê-lo, também se tornaram mais suscetíveis a enxaquecas.
“A colonização pode ter sido acompanhada de adaptações genéticas que ajudaram os primeiros humanos a lidar com temperaturas mais baixas”, afirma a geneticista Aida Andres, da University College London, que supervisionou o estudo.
No entanto, os resultados não esclarecem por que as suscetibilidades a enxaquecas e a temperaturas frias estão geneticamente ligadas. Isso ainda permanece um mistério, de acordo com Key.
“Podemos especular, no entanto, que haja uma sobreposição funcional no receptor que pode mediar enxaquecas, juntamente com a percepção da dor e do frio”, explica. “Assim, o resfriamento do receptor provoca efeitos que vão em uma direção similar, mesmo que não estejam diretamente relacionados entre si.”
O presidente argentino Javier Milei sofreu neste domingo (7) sua derrota mais expressiva desde que chegou à Casa Rosada. Nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, que concentra cerca de 40% do eleitorado nacional, a coalizão peronista Força Pátria, liderada pelo governador Axel Kicillof, economista e ex-ministro da Fazenda de Cristina Kirchner, venceu com 46,93% dos votos, contra 33,83% da Liberdade Avança.
Outros partidos, como Somos (5,41%) e a esquerda (4,37%), ficaram em posições secundárias.
A eleição é tratada na Argentina como um verdadeiro plebiscito antecipado sobre o governo de extrema direita.
O resultado garantiu ao peronismo 34 das 46 cadeiras em disputa na Legislatura provincial. Nas eleições anteriores, realizadas em 2021, o bloco havia conquistado 29 desses assentos e, portanto, ampliou sua representação em cinco cadeiras. A Liberdade Avança ficou com 26 postos.
O placar consolidou a vantagem peronista em seis das oito seções eleitorais, incluindo as duas mais populosas
Projeção do canal C5N mostra vitória da coalizão peronista Força Pátria nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, com 46,9% dos votos, contra 33,8% da Liberdade Avança de Javier Milei — Reprodução/C5N
A derrota da Liberdade Avança deve ter efeito imediato sobre o equilíbrio político nacional. O revés em Buenos Aires, somado ao desempenho limitado em províncias como Jujuy, Santa Fe e Corrientes, coloca em xeque a capacidade de Milei de sustentar sua agenda de cortes e reformas.
A eleição que virou termômetro nacional
As eleições em Buenos Aires foram legislativas, destinadas a renovar parcialmente a Câmara de Deputados e o Senado provinciais. Ao todo, 46 cadeiras estavam em disputa.
Em quatro seções eleitorais foram escolhidos senadores; nas outras quatro, deputados. Ainda que se tratasse de uma eleição local, o peso político do distrito transformou a disputa em um episódio nacional.
O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof (Força Pátria), comemora a vitória peronista nas eleições legislativas deste domingo (7), em Buenos Aires — Foto: Reprodução/Agência Argentina
Na primeira seção eleitoral, que reúne o norte e o oeste do conurbano, Gabriel Katopodis (Força Pátria) derrotou Diego Valenzuela (Liberdade Avança) por 47% a 37%. Já na terceira, considerada bastião histórico do Partido Justicialista (partido kirchnerista), Verónica Magario (Força Pátria) impôs um triunfo por 53% a 28% sobre Maximiliano Bondarenko (Liberdade Avança), candidato lançado pelo governo nacional.
Em La Plata, capital da província, o peronismo venceu Francisco Adorni (Liberdade Avança), irmão do porta-voz presidencial.
A Liberdade Avança conseguiu vitórias apenas na quinta e sexta seções, onde contou com o apoio de aliados do PRO.
Em Bahía Blanca, Oscar Liberman (Liberdade Avança/PRO) derrotou a lista de Kicillof e assegurou cinco cadeiras de senador para o governo. Ainda assim, o saldo final expôs a fragilidade da estratégia oficial, baseada em alianças improvisadas e na aposta em influenciadores digitais, que não se converteram em votos.
O resultado eleitoral transformou Buenos Aires no epicentro da resistência ao governo Milei. Ao mesmo tempo, projetou Kicillof como principal figura do campo oposicionista, com forte presença territorial e respaldo popular.
Desgaste antecipado e peso histórico da derrota
O fracasso governista não foi um raio em céu azul. Pesquisas realizadas semanas antes já indicavam perda de apoio. Um estudo da consultora QSocial, concluído em 20 de agosto, mostrou que apenas 35% dos argentinos consideravam Milei honesto e menos da metade mantinha algum vínculo afetivo com ele.
A popularidade do presidente havia caído para 39%, o índice mais baixo desde o início do mandato.
Posteriormente, esse desgaste foi agravado por turbulências econômicas e por escândalos que atingiram diretamente o núcleo do governo. O chamado KarinaGate, revelado por áudios sobre supostas propinas em contratos de medicamentos para pessoas com deficiência, colocou a irmã do presidente no centro de uma crise de credibilidade.
A associação entre corrupção e descaso com setores vulneráveis teve peso simbólico na percepção pública.
O peso histórico da derrota é evidente. O peronismo não vencia uma eleição intermediária em Buenos Aires desde 2005, quando Cristina Kirchner derrotou Chiche Duhalde. Desde então, o campo havia sofrido sucessivos reveses, inclusive com nomes centrais como Néstor Kirchner, derrotado em 2009, e a própria Cristina, em 2017. A vitória deste domingo foi, portanto, um marco na retomada de protagonismo.
A leitura predominante é que a votação funcionou como um freio político ao governo ultraliberal, corroendo sua narrativa de hegemonia e abrindo espaço para uma reorganização da oposição.
Cinco conclusões e os fatores do revés
Em análise publicada no Página/12, o jornalista Martín Granovsky resumiu o resultado em cinco conclusões: Milei perdeu; Karina perdeu; o governo foi derrotado em seu primeiro grande plebiscito; o peronismo venceu; e Kicillof venceu.
Em sua análise, Martín Granovsky afirma que Milei lidera “o primeiro governo desde o nazismo que transformou os deficientes em alvo humano e orçamentário”, em referência ao escândalo KarinaGate.
O jornalista lembra que o presidente também é acusado de banalizar o Nunca Mais — relatório da CONADEP, publicado em 1984, que documentou os crimes da ditadura militar e se tornou um dos principais consensos democráticos da memória argentina.
A derrota foi explicada por uma combinação de fatores que se retroalimentaram: o precipício econômico da vida cotidiana, o ataque brutal contra o salário direto e indireto, a crueldade como sistema, a perda de confiança no presidente e, por fim, o escândalo de corrupção envolvendo sua irmã.
Cada um desses elementos corroeu parcelas distintas da base social que sustentava o governo. O resultado final foi uma rejeição em bloco, expressa nas urnas da maior província do país.
Reação presidencial e autocrítica controlada
Diante da derrota, Milei adotou um tom inicial de autocrítica. “Tivemos uma clara derrota e é preciso aceitá-la. Tivemos um revés eleitoral”, declarou em seu bunker em La Plata. Cínico, atribuiu a vitória peronista ao “aparato de 40 anos executado de maneira eficiente” e disse que o resultado representava apenas “o teto do peronismo”.
Acompanhado por ministros como Patricia Bullrich e Federico Sturzenegger, além de sua irmã Karina, o presidente prometeu corrigir erros políticos, mas deixou claro que não alterará sua agenda econômica.
“O rumo não vai se modificar, será redobrado. Não se retrocede nem um milímetro”, afirmou, listando como pilares o superávit fiscal, a política cambial e as reformas de desregulação.
No discurso, Milei defendeu o legado de seus primeiros meses: disse ter reduzido a inflação de 200% para 20% e tirado 12 milhões de pessoas da pobreza. A avaliação, porém, contrasta com a percepção social de estagnação e queda de renda, reforçada pelas urnas.
A frieza com que cumprimentou Martín Menem, presidente da Câmara de Deputados e aliado estratégico, expôs também tensões internas em sua coalizão, já desgastada por disputas entre diferentes grupos de poder.
A eleição em Buenos Aires registrou participação de 63% do eleitorado, bem abaixo da média histórica de 76% para eleições intermediárias. O dado reforça a ideia de apatia eleitoral e crise de representação, que agora atinge também Milei, antes beneficiado pelo desencanto social com a política tradicional.
O resultado amplia a fragilidade do governo às vésperas das eleições legislativas nacionais de 26 de outubro, primeiro grande teste da gestão em nível nacional.
Já o peronismo chega fortalecido, com Axel Kicillof consolidado como liderança e já apontado como potencial candidato à Presidência em 2027. O ex-ministro de Cristina Kirchner e governador da província mais populosa se projetou como voz nacional ao transformar Buenos Aires no epicentro da resistência ao governo Milei.
No discurso de comemoração, Kicillof classificou a vitória como uma “celebração popular” e enviou recados diretos ao presidente.
“As urnas disseram ao presidente Milei que as obras públicas não podem ser paralisadas. As urnas explicaram a ele que os aposentados não podem ser derrotados. As urnas, com uma diferença de 13 pontos, explicaram a ele que as pessoas com deficiência não podem ser abandonadas”, afirmou, ao lado de prefeitos e dirigentes da coalizão Força Pátria.
Internamente, a derrota aprofunda a disputa pela condução da estratégia entre Karina Milei, Sebastián Pareja e os irmãos Menem, criticados pela escolha de candidatos frágeis e pela aposta em influenciadores digitais sem densidade política.
A fragmentação de alianças no interior também contribuiu para o revés. Do outro lado, o peronismo se sente fortalecido e fala em “retomar o caminho da unidade” para projetar um retorno ao poder. Cristina Kirchner, mesmo em prisão domiciliar, celebrou a vitória e ironizou Milei nas redes.
Se você continua insistindo no hábito de fumar e de ingerir bebida alcoólica regularmente, saiba que você pode ser um dos 14,7 mil casos novos de câncer de boca esperados pelo Instituto Nacional do Câncer em 2018. O câncer de boca, quinto entre os mais prevalentes no Brasil, mata mais de 5 mil pacientes por ano.
“Quando falamos em câncer bucal incluímos lábios e o interior da cavidade oral, gengivas, mucosa jugal (bochechas), palato duro (céu da boca), língua (principalmente as bordas) e assoalho (região embaixo da língua)”, elencou a odontóloga oncológica Fernanda Mota, que atua na Santa Casa Rodrigo Ramalho.
Segundo um levantamento realizado em 2017 junto ao Sistema de Informação sobre Mortalidade, do DataSUS, entre 2002 e 2011 ocorreram 60.132 óbitos por câncer de boca e orofaringe no Brasil. O perfil predominante dos óbitos foi: homens, brancos, na faixa do 50 anos ou mais, com baixa escolaridade, casado e óbito em ambiente hospitalar.
Fernanda Mota explica que os homens sempre foram os principais alvos da doença, porém, com as mulheres aderindo a hábitos nocivos, como o alcoolismo e o tabagismo, elas passaram também a sofrer com o problema na proporção de uma mulher para quatro óbitos masculinos, segundo o INCA.
Doença silenciosa
Os sintomas do câncer de boca, são sutis. Por isso, é comum que a doença seja detectada em um estágio avançado. “Por ser indolor e pela falta de informação, as pessoas demoram a procurar um profissional”, lamenta Fernanda.
Ao notar qualquer um dos sintomas (veja quadro abaixo), deve-se consultar um dentista. “Não é preciso esperar vários sintomas. Um já é motivo suficiente, principalmente se a pessoa é tabagista ou ingere bebida alcoólica regularmente.”
Conheça (e evite) os fatores de risco
Os fatores de risco clássicos do câncer de boca são o fumo e o consumo de bebidas alcoólicas. Além deles, nos últimos anos, tem havido um aumento na incidência da doença associado ao vírus sexualmente transmissível HPV por meio do sexo oral. Nos lábios, a exposição aos raios UVA e UVB, sem o uso de um protetor solar adequado, também é fator de risco extra.
“Por ser uma doença ligada ao estilo de vida, a melhor prevenção é evitar os fatores de risco”, diz a odontóloga Fernanda Mota. De acordo ela, a higiene bucal é uma forte aliada no combate à doença, assim os hábitos alimentares. Alimentação com bebidas a altas temperaturas, como é o caso do consumo regular de chimarrão, no Sul do País, é um fator de risco.
Além de evitar tais fatores de risco, ela recomenda a escovação dos dentes após as refeições, o uso do fio dental e a consulta periódica ao dentista.
Unidade possui serviço especializado
O Serviço de Odontologia Oncológica da Santa Casa Rodrigo Ramalho atende pacientes usuários do Sistema Único de Saúde encaminhados pelo Cora (Complexo Regulador de Assistência) de Maceió. Para ser encaminhado pelo Cora, o médico do Posto de Saúde deve fazer o encaminhamento.
O atendimento na Santa Casa Rodrigo Ramalho inclui assistência oncológica para pacientes com suspeita de câncer oral e orofaringe e acompanhamento do paciente antes, durante e após o tratamento oncológico. “De acordo com a terapia oncológica escolhida, realizamos o tratamento bucal adequado”, explica Fernanda Mota.
O tratamento do câncer na Santa Casa de Maceió inclue cirurgia, radioterapia e quimioterapia. “A terapia na boca pode afetar a deglutição e a comunicação do paciente, por isso, finaliza Fernanda Mota, a melhor opção contínua sendo a prevenção.”
Seis sintomas na boca que devem deixar a gente em alerta!
A odontóloga oncológica Fernanda Mota detalhou alguns sintomas que podem sinalizar problemas bucais, incluindo o câncer de boca, e que não podem ser ignorados de forma alguma:
Sangramento repentino
A maioria dos sangramentos de gengiva é relacionada a gengivites e periodontites. A inflamação deixa o local avermelhado. Deve-se escovar para retirar a placa bacteriana e usar enxaguante bucal de manhã e à noite durante uma semana. Se o sangramento persistir, deve-se procurar o dentista.
Volume na gengiva ou da língua
Não é da natureza da gengiva ou da língua ter volume aumentado sem motivo. Se a cavidade oral ou o pescoço apresentar volume, a língua tiver falta de mobilidade e houver rouquidão procure o médico. Não confundir com aumentos provocados por abcesso na gengiva.
Ferida que não cicatriza em 15 dias
É comum não dar atenção às aftas ou feridas na boca, achando tratar-se de uma afta persistente. Qualquer lesão que não se cure em 15 dias e que não apresente dor pode indicar um câncer bucal.
Nódulos na boca e/ou no pescoço
Caroços que apresentam dor (ínguas, inchaços e nódulos no pescoço) são resultados naturais de inflamações. Já os caroços que não doem são manifestações do câncer e só apresentam dor em casos muito avançados.
Desconforto no uso de próteses
Prótese dentária mal adaptada e que provoque ferida na boca pode vir a ser porta aberta aberta ao câncer ao longo dos anos, principalmente, em pessoas com bocas mal higienizadas e que façam uso regular de tabaco e de bebida alcoólica.
Mancha branca e/ou úlcera no lábio
Placas esbranquiçadas ou avermelhadas, assim como manchas enegrecidas, são sinais de alerta de que a saúde da boca não vai bem. O problema deve ser investigado.
Operação Game Over: influenciadores pagam multa com doação de bens para construção de Delegacia de Estelionatos e PC encerra investigação
18/10/2024, 16:57 - Geral
Por Redação*
fonte: CadaMinuto
Nesta sexta-feira (18) a Polícia Civil de Alagoas encerrou as investigações relacionadas a cinco influenciadores digitais e pessoas de suas redes de apoio, acusados de promover jogos de azar online clandestinos.
Conforme o delegado Lucimerio Campos, titular da Delegacia de Estelionato, a investigação, conduzida no âmbito da Operação Game Over, desvendou um esquema que envolvia a promoção ilegal de jogos por meio de plataformas digitais, utilizando "Contas Demonstração" que simulavam apostar reais, porém tinham o objetivo de captar apostadores/seguidores de forma irregular, causando prejuízo financeiro e emocional a diversas pessoas.
O encerramento da investigação ocorreu após a celebração de acordos de colaboração premiada entre os influenciadores investigados e a Polícia Civil de Alagoas. Esses acordos contaram com parecer favorável do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público Estadual, e foram devidamente homologados pelo Colegiado de Juízes da 17ª Vara Criminal de Maceió.
A colaboração premiada é um instrumento jurídico que permite que investigados e réus contribuam com informações relevantes para a elucidação de crimes, auxiliando na identificação de outros envolvidos ou na recuperação de valores ilícitos. Em contrapartida, os colaboradores podem receber benefícios legais, como a redução de penas ou até o perdão judicial, a depender do grau de colaboração e dos resultados obtidos para a investigação.
“Por fim, o acordo resultou no pagamento de multa ao Estado, por meio de doação de bens e equipamentos e construção de uma sede para a Delegacia de Estelionatos em Maceió, recentemente criada pelo governo do Estado e que foi a responsável pela deflagração da Operação Policial”, frisou a autoridade policial.
Dos bens e valores apreendidos durante a Operação Game Over, o acordo homologado perante a 17ª Vara Criminal assegurou também recursos para ressarcir as vítimas do inquérito policial.
O delegado Lucimerio Campos disse ainda que, com o encerramento das investigações, a Polícia Civil de Alagoas reafirma seu compromisso em combater atividades ilícitas na internet, garantindo que os responsáveis por práticas criminosas sejam responsabilizados e que as vítimas possam ser devidamente indenizadas.
CELAC cobra saída de tropas dos EUA do Caribe e denuncia ameaça regional
Em reunião virtual, chanceleres latino-americanos exigiram retirada militar dos EUA, criticaram ingerência externa e reafirmaram o Caribe como Zona de Paz
Reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em formato presencial em Tegucigalpa, Honduras, em 2024. Nesta segunda-feira (1º), chanceleres da região se reuniram virtualmente para exigir a retirada das tropas dos Estados Unidos do Caribe. Foto: Ricardo Stuckert/ Pr
A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) realizou nesta segunda-feira (1º) uma reunião emergencial para discutir a escalada militar dos Estados Unidos no Caribe.
O bloco regional pediu a retirada imediata das tropas norte-americanas, denunciou ingerência externa e reafirmou a região como uma Zona de Paz.
A crise foi detonada pelo envio de navios de guerra e um submarino nuclear à costa venezuelana, sob a justificativa de combate ao narcotráfico, considerada sem provas por governos latino-americanos.
A convocatória partiu da presidência pro tempore da Colômbia, exercida pela chanceler Rosa Yolanda Villavicencio Mapy.
A reunião extraordinária, em formato virtual, foi respaldada pelo Estatuto da CELAC de 2011, que permite encontros emergenciais diante de ameaças à paz regional. Segundo a chancelaria colombiana, o objetivo era garantir uma reflexão coletiva sobre a preservação da soberania, da independência política e da integridade territorial dos Estados.
Na declaração, os países reforçaram o repúdio a qualquer forma de ingerência externa e sublinharam a necessidade de reforçar os canais de diálogo e cooperação.
A CELAC recordou que a América Latina e o Caribe foram declarados Zona de Paz em 2014, compromisso que não pode ser reduzido a um documento simbólico. Para o bloco, a estabilidade da região depende de respostas conjuntas e coordenadas diante de desafios transnacionais.
A ministra colombiana destacou que o respeito entre as nações deve ser a “espinha dorsal” da ordem internacional.
Ela reconheceu que a liberdade de navegação está prevista pelo direito marítimo, mas alertou que o envio de embarcações militares acompanhado de retórica beligerante ultrapassa a fronteira entre presença e coerção.
“Rejeitamos a lógica da intervenção e reafirmamos a Carta das Nações Unidas”, afirmou Villavicencio.
O encontro consolidou um posicionamento coletivo contrário à escalada dos EUA, visto como um precedente perigoso para toda a região. A decisão também amplia o isolamento diplomático de Washington, já contestado em instâncias multilaterais e no próprio continente.
Forças dos EUA no Caribe
A movimentação militar se intensificou nos últimos dias. No fim de agosto, o destroier USS Sampson atracou no Panamá, enquanto o lançador de mísseis USS Lake Erie atravessava o Pacífico rumo ao Caribe.
Já estavam na região os destroieres USS Jason Dunham e USS Gravely, além do navio de assalto anfíbio USS Iwo Jima.
Dois navios de apoio com capacidade para mais de 4.500 soldados completam o destacamento. Washington não informou a localização exata do submarino nuclear USS Newport News, também deslocado.
Segundo o governo venezuelano, o conjunto chega a oito embarcações, com mais de 1.200 mísseis e 4.200 soldados mobilizados.
Em declaração oficial, a Casa Branca afirma que a operação visa combater o narcotráfico. No entanto, em julho, o Departamento de Estado ofereceu recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Nicolás Maduro, acusado de chefiar o “Cartel dos Sóis”.
A denúncia, rejeitada por Caracas e sem provas oficiais, foi acompanhada pela declaração da porta-voz Karoline Leavitt de que os EUA usariam “toda a força” contra a Venezuela.
A presença militar foi classificada como violação ao Tratado de Tlatelolco, assinado em 1967 e ratificado por Washington em 1971, que proíbe armas nucleares na América Latina e Caribe.
Caracas denuncia que a simples possibilidade de o submarino nuclear carregar armamento atômico ameaça o estatuto da região como zona desnuclearizada.
A justificativa antidrogas também foi rebatida por diferentes governos. A ministra colombiana lembrou que as operações dos EUA se baseiam em retórica beligerante. Já Cuba afirmou que os relatórios da DEA não têm base em fatos, e a Nicarágua defendeu que qualquer ameaça de uso da força coloca em risco a paz regional.
Venezuela denuncia ameaça inédita
O presidente Nicolás Maduro afirmou, nesta segunda, que a Venezuela enfrenta a maior ameaça dos últimos 100 anos no continente. Em pronunciamento à imprensa internacional, ele acusou os EUA de recorrerem à “máxima pressão militar” depois do fracasso de suas sanções e bloqueios.
“Declaramos a máxima preparação para a defesa da Venezuela”, disse. O chefe de Estado classificou a escalada como “extravagante, imoral, criminosa e sangrenta”.
Maduro também comparou a ofensiva à chamada “diplomacia das canhoneiras”, estratégia imperial do século XIX agora retomada sob a lógica da Doutrina Monroe.
Ele afirmou que a Venezuela resistiu a mais de mil medidas coercitivas, mantém sua economia em recuperação e fortalece relações com potências emergentes, citando os BRICS. “O Grupo de Lima desapareceu. Os governos que nos atacavam ficaram isolados”, declarou.
O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, reforçou que a operação não tem qualquer relação com o narcotráfico. Ele destacou relatórios da ONU que apontam que 87% da produção de drogas da América do Sul se origina em Colômbia, Equador e Peru, e sai principalmente pelo Pacífico, onde os EUA não mobilizaram frotas. Para o general, a atitude revela “uma evidente dupla moral”.
Caracas também denunciou a presença de tropas e mísseis em prontidão para invadir a Venezuela e mobilizou milhares de cidadãos na Milícia Bolivariana. A estratégia interna busca combinar resistência popular com denúncia diplomática, projetando a ameaça não como um ataque isolado ao país, mas como um risco para toda a região latino-americana.
Reações e desdobramentos
Além da CELAC, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA) já havia condenado a escalada. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que os EUA cometem um erro ao tentar transformar a Venezuela em uma “nova Síria”, com risco de arrastar o próprio território colombiano para o conflito. Nicarágua e Cuba também reafirmaram apoio ao governo venezuelano e defenderam a unidade regional diante da provocação externa.
O posicionamento conjunto reflete o esforço latino-americano para rechaçar a lógica da intervenção e fortalecer a via diplomática. A denúncia da Venezuela em instâncias multilaterais aponta para a tentativa de ampliar apoios no Sul Global e reforçar tratados já estabelecidos contra a militarização da região.
Os EUA, por sua vez, sustentam a narrativa do combate ao narcotráfico, enquanto aumentam a pressão direta sobre Caracas com presença bélica e recompensas contra Maduro. A escalada reativa memórias da Guerra Fria e da Crise dos Mísseis, evocadas por chanceleres e diplomatas como referência ao risco nuclear.
A crise, portanto, se estabelece como uma encruzilhada: de um lado, Washington aposta na pressão militar aberta; de outro, a América Latina tenta consolidar-se como espaço de soberania e paz, recusando a ingerência e denunciando o desequilíbrio criado pela movimentação de tropas estrangeiras.
O perigo da carambola: substância tóxica pode causar insuficiência renal e levar à morte
Originária da Índia e introduzida no Brasil em 1817, a carambola é excelente para a saúde humana. Rica em minerais, vitaminas e antioxidantes, a fruta possui papel importante no combate a diversas enfermidades. Por outro lado, ingerida em grande quantidade pode causar danos à saúde, principalmente em pacientes com problemas renais.
Em entrevista ao 7Segundos, a nutricionista Graciella Tenório relata que o consumo regular da carambola traz benefícios contra muitas enfermidades. “A carambola contém baixo teor energético, apenas 31 calorias em 100 gramas da fruta, é rica em sais minerais como o cálcio, fósforo e ferro. Também é fonte de vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C e contém diversos antioxidantes. Devido a toda riqueza de nutrientes, a carambola ajuda no processo da digestão, pode retardar o envelhecimento, possui efeitos anti-inflamatório e atua no sistema imunológico, protegendo contra gripes e resfriados”, conta.
Por outro lado, a nutricionista faz um alerta aos malefícios da fruta. “A carambola possui uma neurotoxina capaz de provocar alterações neurológicas em pacientes com doença renal crônica, envolvendo alterações como soluços e confusão mental, podendo evoluir para quadros mais graves, como convulsões e até levar à morte. Pessoas sadias devem ter cautela quanto ao seu consumo, mas está terminantemente proibido o consumo da carambola em indivíduos com problemas renais”, explica.
Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia mostram que 70% dos pacientes que fazem diálise — processo de filtração do sangue utilizado para eliminar o excesso de líquidos e as substâncias tóxicas — descobrem a doença tardiamente. Por isso, especialistas recomendam evitar o consumo da fruta.
Afinal, que substância é essa?
O primeiro relato no Brasil sobre os efeitos tóxicos da carambola foi registrado em 1992. Na ocasião, o nefrologista Miguel Moysés, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), em São Paulo, constatou a morte por intoxicação de pacientes com problemas renais, após ingestão da carambola.
Decididos a estudar a relação entre o consumo da fruta e a intoxicação em pacientes com insuficiência renal, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram isolar e caracterizar a toxina presente na carambola para entender como ela age no organismo. Os autores batizaram a molécula de caramboxina.
“Em pessoas sadias, a caramboxina é absorvida, filtrada nos rins e eliminada através da urina. Em pacientes renais isso não ocorre, pois essa neurotoxina não é devidamente excretada, ocorrendo elevação de seus níveis séricos, o que permite sua passagem pela barreira hematoencefálica e consequente ação sobre o sistema nervoso central”, explica a nutricionista.
Me intoxiquei, e agora?
Em caso de intoxicação, é necessário procurar o serviço de emergência mais próximo. “O diagnóstico de intoxicação pela caramboxina é fácil em pacientes com doença renal crônica, porém, em pessoas sadias, isso fica mais difícil. A maioria dos médicos pensa primeiramente em AVC ou em outros tipos de intoxicação. Cabe ao paciente ou à família relatar se houve consumo da fruta. A hemodiálise é o único tratamento efetivo em casos de intoxicação por carambola”, finaliza Graciella.
Governo vai entregar mais 50 leitos para tratar pacientes com Covid-19 no Sertão de AL
Secretário Alexandre Ayres anunciou financiamento mensal em três municípios e garantiu 100% de equipamentos às unidades hospitalares locais
↑ Ao lado da prefeita de Delmiro Gouveia, Ziane Costa, Alexandre Ayres acompanhou a entrega de equipamentos para os novos leitos Covid (Foto: Thiago Duarte / Agência Alagoas)
Municípios da região do Sertão alagoano receberam, nessa sexta-feira (12), a visita técnica da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), que garantiu às gestões a continuidade de investimentos no enfrentamento à pandemia da Covid-19. As visitas foram coordenadas pelo secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, com acompanhamento de prefeitos, secretários municipais e do secretário Executivo de Gestão Interna da Sesau, André Cabral.
Às gestões municipais em São José da Tapera, Delmiro Gouveia e Piranhas, o secretário da Saúde garantiu a abertura de mais 50 leitos nas cidades, 100% dos equipamentos necessários e financiamento mensal.
“Alagoas continua firme no combate à Covid-19. Os municípios estão estruturando a sua rede para continuar salvando vidas. Por orientação do governador Renan Filho, vamos financiar, todos os meses, os 50 leitos que serão entregues à população”, contextualizou o secretário.
São José da Tapera
A primeira parada ocorreu na cidade de São José da Tapera, localizada no médio Sertão. Durante a visita ao Hospital Municipal Ênio Ricardo Gomes, referência na região, o secretário Alexandre Ayres informou que o Governo de Alagoas vai assumir ala de tratamento de pacientes com a Covid-19.
“O Hospital Municipal em São José da Tapera é referência aqui na região no atendimento a pacientes com diversas comorbidades. E neste contínuo combate à Covid-19, o Governo pactuou, junto ao prefeito Jarbas Ricardo, que a Secretaria de Estado da Saúde assume toda a estrutura da ala Covid-19 na unidade. O envio de novos equipamentos hospitalares está assegurado para ampliar os serviços e o hospital continuar realizando este trabalho digno e atendendo cada vez melhor o alagoano”, informou o secretário Alexandre Ayres.
O prefeito Jarbas Ricardo destacou que o diálogo com a Sesau tem sido recorrente e as respostas do Governo são imediatas. “A parceria tem sido fundamental, sobretudo em um momento tão complicado. Sempre que mantemos o contato com o governador Renan Filho, conversas com o secretário Alexandre Ayres, o município tem recebido retorno. E este novo compromisso da Saúde nos ajuda a salvar vidas”, complementa.
Com o Governo de Alagoas fazendo a sua parte no enfrentamento à pandemia da Covid-19, o secretário Alexandre Ayres fez questão de fazer novos apelos à população para que sigam cumprindo as medidas de proteção, usando máscaras e evitando aglomerações. “Estamos aumentando a quantidade de leitos UTI e de enfermaria exclusivos para Covid-19, mas não podemos esquecer que as pessoas precisam fazer a sua parte”.
Delmiro Gouveia
O município de Delmiro Gouveia foi o segundo visitado. Na cidade, o secretário Alexandre Ayres esteve na UPA Dr. Ulysses Luna, ao lado da prefeita Ziane Costa e da secretária Municipal de Saúde, Geonice Peixoto. No município ele ampliou em mais dez leitos clínicos a estrutura para atender pacientes acometidos com a Covid-19.
Em seguida, o secretário visitou as obras do Hospital Regional do Alto Sertão, dialogou com representantes da construtora, e ressaltou que o próximo equipamento a ser entregue pelo Governo de Alagoas levará à população grandes benefícios, modernização da saúde e atendimento humanizado.
O hospital vai atender oito municípios da região e sua obra está orçada em R$ 32,8 milhões. A unidade terá capacidade para realizar 7.763 consultas e 7 mil exames de diagnóstico por mês. Além da população de Delmiro Gouveia, a unidade atenderá os habitantes de Piranhas, Inhapi, Água Branca, Olho D’Água do Casado, Mata Grande, Canapi e Pariconha, beneficiando uma população de 171.204 pessoas.
Piranhas
A última parada da visita técnica foi na cidade de Piranhas, mais precisamente na Unidade Mista Senador Arnon de Mello, onde também foram garantidos mais leitos exclusivos para tratar pessoas infectadas com a Covid-19.
“Paz americana” em Washington expõe limites de Kiev e vantagem russa
Trump ignorou apelos europeus por cessar-fogo, alinhou-se a Moscou e deixou claro que a Ucrânia não tem autonomia nas negociações sobre o fim da guerra
Trump recebeu Putin em Anchorage, no Alasca, na sexta-feira (15), no primeiro encontro presencial entre líderes dos dois países desde o início da guerra, gesto que simbolizou a retomada da diplomacia direta e evidenciou a posição de vantagem da Rússia no tabuleiro internacional. Foto: Reprodução/ Casa Branca
No meio da reunião desta segunda-feira (18) na Casa Branca, Donald Trump interrompeu o encontro com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e sete líderes europeus para fazer uma ligação a Vladimir Putin.
A cena, apenas três dias depois de o presidente dos Estados Unidos estender o tapete vermelho ao chefe do Kremlin em Anchorage, no Alasca, no primeiro encontro presencial entre os dois desde o início da guerra, tornou-se o símbolo da posição de vantagem dos russos no conflito — uma reviravolta em relação à correlação de forças dos últimos dois anos.
A reunião da última sexta-feira (15) ocorreu na base aérea de Elmendorf-Richardson e marcou o retorno da diplomacia direta entre Washington e Moscou, depois de anos de isolamento.
A interrupção do encontro expôs a contradição central da cúpula: enquanto os líderes europeus correram a Washington para dar respaldo a Zelensky e tentar impor a Trump a exigência de um cessar-fogo como condição mínima para negociações, o presidente norte-americano seguiu o caminho inverso.
Se antes Trump chegou a apoiar a ideia, depois de Anchorage adotou a posição de Moscou de que qualquer acordo precisa ser abrangente, não se limitando à suspensão temporária dos combates.
Na prática, a chamada “paz americana” apresentada na Casa Branca não representou uma saída para a Ucrânia, mas, sim, a demonstração clara de seus limites frente à força de manobra da Rússia.
Prova da posição vantajosa do Kremlin é a cobertura da imprensa internacional. A Reuters destacou que “Trump tem pressionado por um fim rápido à guerra mais letal da Europa em 80 anos, e Kiev e seus aliados temem que ele tente impor um acordo nos termos da Rússia”.
O texto lembrou ainda que, em Anchorage, “o presidente americano recebeu Putin com pompa, apesar de o líder russo enfrentar acusações de crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional, que ele nega”.
O New York Times, por sua vez, observou que o encontro em Washington deixou evidente o caráter performático da diplomacia de Trump. “Na prática, os líderes europeus se viram reféns dos impulsos de um único homem, Trump”, escreveu o jornal.
A reportagem sublinhou que a reunião terminou sem definições concretas, mas com a constatação de que o presidente norte-americano “adotou grande parte da abordagem de Putin sobre a Ucrânia” após o encontro no Alasca.
A “paz americana” e a cortina de fumaça
Trump buscou manter suspense em torno do que seriam as garantias norte-americanas a Kiev. Não ofereceu “botas no chão”, como se referiu a tropas em território ucraniano, mas prometeu vender armas e ampliar negócios de empresas norte-americanas no país — promessas vistas por Kiev como muito aquém de uma garantia de segurança.
Na prática, como registrou Gérard Araud, ex-embaixador da França em Washington, “em Anchorage e em Washington, foi o triunfo do vazio e de compromissos sem significado. Nada mudou”.
A aparente cordialidade entre Trump e Zelensky, com elogios ao traje do ucraniano e risos ensaiados no Salão Oval, funcionou como cortina de fumaça para esconder o verdadeiro jogo: a condução de uma negociação que já se desenha em torno dos termos de Moscou.
Durante todo o encontro, no entanto, a presença de Putin pairou como uma sombra permanente. Trump mencionou diversas vezes que precisava atualizar o russo e, no meio da reunião, levantou-se para telefonar a ele.
De acordo com diplomatas europeus, os dois discutiram a possibilidade de um encontro direto entre Putin e Zelensky, seguido de uma cúpula trilateral. Moscou chegou a ser sugerida pelo Kremlin como sede, mas Trump recusou.
Ainda assim, a mensagem era inequívoca: Kiev não é protagonista, mas peça em um tabuleiro já dominado por Trump e Putin.
A vitória de Moscou e o recuo europeu
Os europeus se esforçaram para mostrar unidade, mas, na prática, tiveram que engolir o recuo de Trump em relação ao cessar-fogo.
“Para ser honesto, todos gostaríamos de ver um cessar-fogo”, disse Merz. “Não consigo imaginar que a próxima reunião aconteça sem um.” Trump, porém, retrucou afirmando que já solucionou conflitos sem precisar interromper os combates.
Emmanuel Macron, que em 2022 fracassou em dissuadir Putin da guerra, limitou-se a declarar que “o presidente Trump está muito confiante em sua capacidade de fechar um acordo, o que é uma boa notícia para todos nós”.
Enquanto isso, as declarações sobre garantias de segurança se limitaram a promessas vagas. Zelensky anunciou que Kiev se dispõe a comprar US$ 90 bilhões em armas dos EUA, um número que apenas reforça a dependência de um país já fragilizado.
Para Londres, Paris e Berlim, a viagem a Washington serviu mais para conter danos do que para abrir perspectivas. “Estávamos bem preparados e bem coordenados”, disse Merz após a reunião. “Representamos os mesmos pontos de vista, e acho que isso agradou ao presidente americano, que percebeu que os europeus estão falando com uma só voz.”
Boletim divulgado nesta quinta-feira, dia 01, pelo Ministério da Saúde sobre a febre amarela em todo o país revelou que em Alagoas houve seis notificações e quatro casos que ainda se encontram em fase de investigação. Ainda segundo o boletim, outros dois casos notificados no Estado foram descartados.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) esclareceu que não há circulação do vírus da febre amarela (nem silvestre e nem urbana) em Alagoas e nenhum caso da doença foi confirmado no Estado. A secretaria falou que de janeiro a fevereiro deste ano já foram notificados seis casos suspeitos da doença, que são importados de outros estados (SP, CE, MG e RJ), e que dois deles já foram descartados e quatro permanecem aguardando o resultado dos exames laboratoriais, que são realizados no Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará.
A Sesau destacou ainda que os casos suspeitos não inspiram cuidados, uma vez que clinicamente já estão descartados. Quanto à vacina, em Alagoas a recomendação é apenas para os moradores de Delmiro Gouveia, por está situado vizinho ao estado da Bahia, onde há o registro de casos da doença. Quanto aos demais municípios alagoanos, incluindo Maceió, não há recomendação da vacina, apenas para as pessoas que irão viajar para outros estados onde há circulação do vírus da febre amarela.
Dados
Os dados do boletim foram coletados no período de julho de 2017 a fevereiro deste ano. O levantamento destaca que todo o país houve 723 casos de febre amarela confirmados, sendo que 237 vieram a óbito. Ao todo, foram notificados 2.867 casos suspeitos, sendo que 1.359 foram descartados e 785 permanecem em investigação, neste período. No ano passado, de julho de 2016 até 28 fevereiro de 2017, eram 576 casos confirmados e 184 óbitos confirmados. Os informes de febre amarela seguem, desde o ano passado, a sazonalidade da doença, que acontece, em sua maioria, no verão. Dessa forma, o período para a análise considera de 1º de julho a 30 de junho de cada ano.
Embora os casos do atual período de monitoramento tenham sido superiores à sazonalidade passada, o vírus da febre amarela hoje circula em regiões metropolitanas do país com maior contingente populacional, atingindo 32,3 milhões de pessoas que moram, inclusive, em áreas que nunca tiveram recomendação de vacina. Na sazonalidade passada, por exemplo, o surto atingiu uma população de 8 milhões de pessoas, muito menor que a atual.
Isso explica a incidência da doença neste período ser menor que no período passado. A incidência da doença no período de monitoramento 2017/2018, até 28 de fevereiro, é de 2,2 casos para 100 mil/habitantes. Já na sazonalidade passada, 2016/2017, a incidência foi de 7,1/100 mil habitantes, no mesmo período.
Israel e Hamas assinam acordo e podem encerrar dois anos de guerra em Gaza
Mediado por Catar, Egito e Turquia, pacto prevê libertação de reféns e ajuda humanitária; cessar-fogo é alívio para Gaza, mas não redime o papel dos EUA na tragédia
Israel e Hamas assinaram nesta quinta-feira (9) um acordo de cessar-fogo que encerra dois anos de bombardeios e fome na Faixa de Gaza, com saldo superior a 67 mil palestinos mortos.
O pacto, mediado por Catar, Egito, Turquia e Estados Unidos, prevê a libertação de reféns israelenses em troca de cerca de dois mil prisioneiros palestinos, além da entrada imediata de comboios com alimentos e medicamentos.
A assinatura ocorreu em Sharm el-Sheikh, no Egito, após semanas de negociações indiretas.
Pelo texto, as forças israelenses devem iniciar uma retirada parcial do território e suspender as operações militares enquanto o Hamas liberta os reféns que ainda permanecem em cativeiro desde os ataques de outubro de 2023.
Segundo autoridades envolvidas nas tratativas, a trégua será efetiva após ratificação do gabinete israelense, prevista ainda para esta quinta-feira (9).
Em Gaza, moradores celebraram o fim dos bombardeios e a promessa de que os caminhões de ajuda humanitária finalmente cruzarão as fronteiras; em Tel Aviv, famílias dos reféns se reuniram na chamada Praça dos Reféns, entre lágrimas e alívio, após dois anos de mobilizações.
“Graças a Deus pelo fim do derramamento de sangue”, disse um morador de Khan Younis, no sul do enclave. “Toda a Faixa de Gaza está feliz.”
Ainda há, porém, incertezas. A lista de prisioneiros palestinos a serem libertos não foi concluída, e o destino de dezenas de reféns continua indefinido.
Também não há consenso sobre o futuro político de Gaza nem sobre o papel do Hamas na administração do território. O acordo, por ora, representa apenas o primeiro passo de uma negociação frágil e dependente de garantias internacionais.
Trump busca capital político, mas EUA são parte da tragédia
O anúncio do cessar-fogo foi apresentado por Donald Trump como uma vitória pessoal e um “grande dia para o mundo”, mas o desfecho em Gaza está longe de redimir o papel dos Estados Unidos no conflito.
Desde o início da guerra, Washington forneceu armas, cobertura diplomática e veto sistemático a resoluções da ONU que exigiam o fim dos ataques e a proteção de civis.
Mesmo após a escalada que destruiu bairros inteiros e matou milhares de crianças, o governo norte-americano manteve a assistência militar a Israel, transformando o país no principal fiador político de Benjamin Netanyahu.
Sob a justificativa de combater o “terrorismo”, Washington legitimou uma ofensiva reconhecida por organismos internacionais como genocídio e bloqueou iniciativas de investigação no Tribunal Penal Internacional.
Trump tenta agora converter o cessar-fogo em capital político, projetando-se como mediador da paz num conflito que seu próprio governo alimentou.
O acordo, que prevê a libertação de reféns e prisioneiros, ocorre dois anos e um dia após os ataques de 7 de outubro de 2023 — data usada por Trump como símbolo de seu retorno à arena internacional.
Ainda assim, nenhuma retórica pacificadora apaga o fato de que os Estados Unidos financiaram as armas, protegeram a impunidade israelense e isolaram a Palestina nas instâncias multilaterais.
Enquanto se apresenta como “pacificador”, Trump carrega a contradição de ter punido juízes e procuradores do TPI que investigavam crimes de guerra cometidos em Gaza. Essa política de hostilidade às instituições internacionais tornou possível o prolongamento do conflito e o agravamento da catástrofe humanitária que agora tenta capitalizar politicamente.
Acordo é alívio humanitário, não absolvição
O cessar-fogo representa um alívio imediato para uma população devastada por dois anos de ataques, fome e deslocamentos forçados.
Milhares de famílias que viviam em tendas aguardam a chegada de caminhões com alimentos e suprimentos médicos. O texto do acordo prevê que o fluxo de ajuda seja monitorado por países mediadores e que as tropas israelenses recuem a uma linha previamente acordada, o que deve abrir espaço para a reconstrução de Gaza e para a retomada dos serviços básicos.
A libertação dos reféns israelenses e dos prisioneiros palestinos é parte central da trégua, mas o pacto não encerra as causas estruturais do conflito.
Gaza permanece sob bloqueio, e Israel conserva o controle militar e econômico do território. A reconstrução dependerá da atuação efetiva de organismos humanitários e do compromisso da comunidade internacional em evitar novas violações.
Carlos Mesa e Jorge Quiroga, líderes oposicionistas bolivianos, durante a campanha que resultou na derrota histórica do MAS. Foto: Reprodução
Pela primeira vez em quase duas décadas, a Bolívia não será governada por um candidato do Movimento ao Socialismo (MAS). As eleições deste domingo (17) confirmaram a derrota eleitoral do partido pondo em risco os avanços sociais conquistados no período. De acordo com o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), dois candidatos direitistas disputarão o segundo turno.
O senador Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), obteve 32% dos votos e avançou em primeiro lugar. Ele vai enfrentar o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Aliança Livre (ADN), que conquistou 27% e ficou com a segunda vaga.
Também de direita, o empresário Samuel Doria Medina somou 20%, seguido por Andrónico Rodríguez (MAS), presidente do Senado, que alcançou apenas 8,1%.
A Constituição de 2009 instituiu o mecanismo de segundo turno, que nunca havia sido necessário, já que o MAS sempre venceu no primeiro turno com Evo Morales ou Luis Arce.
Desta vez, o quadro mudou radicalmente: a esquerda se apresentou dividida e enfraquecida, enquanto a direita se beneficiou da fragmentação progressista e da crise econômica que pressiona o país.
O TSE anunciou que o relatório completo dos resultados, incluindo a composição do Parlamento, deve ser divulgado nos próximos dias, devido ao processamento manual das atas. Até lá, o país segue debatendo os impactos de uma eleição que redefine seu rumo político.
Luis Arce reforça legitimidade do processo e pede paz
O presidente Luis Arce, que não concorreu, parabenizou a população pela participação e afirmou que seu governo garantiu um processo pacífico e transparente, mesmo diante de pressões.
Ele destacou que houve “ataques internos e externos” para sabotar a eleição, mas ressaltou que o esforço da administração foi decisivo para assegurar o direito democrático ao voto.
“Fizemos todos os esforços para garantir esse processo. Nós o cumprimos!”, declarou. “Estamos confiantes de que, no segundo turno, nosso povo reafirmará mais uma vez que os bolivianos resolvem nossos problemas pacificamente.”
Arce aproveitou para marcar a importância simbólica da votação em meio ao Bicentenário da Independência boliviana: “A democracia venceu! Viva a Bolívia em seu Bicentenário! Viva a nossa democracia!”
Sem mencionar diretamente os candidatos que passaram ao segundo turno, o discurso buscou reafirmar a legitimidade do processo eleitoral em um contexto de polarização e de incerteza quanto ao futuro do país. A mensagem também representou uma tentativa de preservar a imagem institucional do Estado diante da derrota de seu partido.
Divisão interna e voto nulo explicam a derrota
Para o analista Hugo Moldiz, ouvido pela teleSUR, a derrota da esquerda está diretamente ligada à ruptura do MAS e à estratégia de voto nulo defendida por Evo Morales. Ele responsabilizou o ex-presidente por ter estimulado uma opção que acabou favorecendo os adversários.
“Um dos maiores responsáveis por sua posição com o voto nulo, que terminou beneficiando a todos menos à esquerda, foi alentado pelo ex-presidente”, afirmou.
Moldiz destacou que a fragmentação de sindicatos e movimentos sociais também contribuiu para o resultado, ao romper a aliança histórica entre o MAS e a base popular. “A fragmentação social de sindicatos, de movimentos e a divisão do MAS praticamente determinou o resultado que observamos”, explicou.
Na avaliação do analista, a esquerda boliviana precisa realizar uma autocrítica profunda para compreender os fatores estruturais que levaram ao declínio.
“As forças de esquerda e o campo popular devem refletir seriamente sobre as causas estruturais, não sobre o aparente”, disse. “É preciso explorar a fundo as causas estruturais para aprender as lições e recomeçar do zero”, completou.
Segundo Moldiz, o campo popular rejeitou propostas associadas à era neoliberal de 1985-2005, marcada por privatizações e submissão aos Estados Unidos. Contudo, a falta de unidade progressista impediu que essa rejeição se traduzisse em votos suficientes para a esquerda, deixando o espaço livre para que a direita ocupasse o primeiro e o segundo lugar.
Rodrigo Paz emerge como favorito
O senador Rodrigo Paz Pereira, filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, consolidou-se como a principal força no primeiro turno. Em discurso diante de apoiadores em La Paz, agradeceu os votos, mas pediu cautela:
“Não ganhamos nada ainda, temos o direito de jogar uma final que se define em dois meses. Nada se ganha até que se ganhe, até que haja a assinatura da vitória.”
Segundo análises, Paz construiu sua imagem política com críticas “construtivas” ao governo de Arce no Senado e ampliou sua legitimidade ao participar da convocação presidencial para garantir a transparência eleitoral, da qual seus rivais de direita se recusaram a tomar parte.
Hugo Moldiz avalia que, em eventual governo, Paz pode assumir um perfil bonapartista, cedendo às pressões da burguesia, mas mantendo vínculos precários com movimentos sociais. Ele também advertiu que existe risco de o novo mandatário abandonar o Alba e reorientar a política externa boliviana, aproximando-se dos Estados Unidos em detrimento da articulação com os Brics.
Quiroga aposta na estabilidade econômica
O ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga comemorou a classificação ao segundo turno e felicitou seu rival. “Hoje ganhou a democracia”, declarou, em tom conciliador. Ele agradeceu não apenas aos seus eleitores, mas também aos cidadãos que escolheram outros candidatos, numa tentativa de ampliar seu alcance.
Quiroga apresentou como principal desafio, caso retorne à presidência, a estabilização da economia, hoje pressionada por inflação alta e dificuldades fiscais. Num aceno ao centro e à esquerda, descartou revanchismo: “Não darei impunidade, mas também não chegarei com sede de vingança.”
Apesar de sua retórica de moderação, Quiroga é identificado com políticas conservadoras e já defendeu medidas semelhantes às do argentino Javier Milei, incluindo cortes drásticos nos gastos públicos. Sua presença no segundo turno consolida a guinada à direita do processo político boliviano.
O contraste entre Paz e Quiroga está menos em ideologia e mais no estilo: enquanto o senador tenta se apresentar como renovador e conciliador, o ex-presidente aposta em sua experiência para liderar uma guinada conservadora. Ambos, no entanto, representam a ruptura com o ciclo progressista iniciado há quase duas décadas.
Desafios da esquerda diante do novo cenário
A exclusão da esquerda do segundo turno abre um período de incertezas sobre o futuro do projeto iniciado em 2006. O MAS, marcado pela divisão entre Evo Morales e Luis Arce, não conseguiu apresentar uma candidatura viável.
A opção de Morales pelo voto nulo contribuiu para o enfraquecimento do campo progressista e é vista como fator decisivo na derrota.
Para setores populares e analistas, a tarefa imediata da esquerda é realizar uma reflexão crítica sobre as causas da crise. O balanço inclui não apenas os erros eleitorais de 2025, mas também as tensões acumuladas entre o governo e movimentos sociais, a dependência das exportações de recursos naturais e a dificuldade em renovar lideranças.
A derrota histórica do MAS sinaliza também uma mudança na geopolítica regional. Se confirmada a vitória de Rodrigo Paz ou de Jorge Quiroga, a Bolívia poderá reconfigurar sua política externa, reduzindo o peso de alianças como o Alba e se aproximando dos Estados Unidos e de setores empresariais que pressionam pela abertura total do mercado de lítio.
Enquanto isso, as próximas semanas serão decisivas para a reorganização do campo progressista e para a definição de estratégias que evitem retrocessos sociais diante da guinada conservadora. Como alertou Hugo Moldiz, será preciso “volver a empezar de cero” para reconstruir a unidade popular e preparar um novo ciclo de resistência.