Se você tivesse de escolher, qual seria a imagem que poderia sintetizar uma campanha eleitoral? Um comício, com o candidato em cima de um palanque, rodeado de aliados, resume bem a coisa? Ou talvez você escolhesse uma cena de carreata, com dezenas e dezenas de veículos, numa fila a perder de vista, e o candidato em cima de uma caminhonete, acenando para esquinas e calçadas cheias de eleitores. As bandeiras a tremular com o rosto estampado do concorrente a prefeito daria uma boa fotografia para ilustrar a alma de uma campanha. Pode ser.

Bem, a era do grande comício – que um dia foi chamado de “showmício” – acabou para sempre. E já faz tempo que isso aconteceu. Aqueles eventos com atrações musicais contratadas a peso de ouro foram banidos da paisagem, por decisão do Congresso, no distante ano de 2006. Foi uma maneira de coibir o abuso de poder econômico e tornar a disputa um pouco mais igualitária. Claro que isso não resolveu o problema da disparidade no quesito dinheiro. De todo modo, foi um avanço.

Mas uma imagem que sem dúvida traduz o espírito de uma corrida eleitoral é o candidato no corpo a corpo com Sua Excelência, O Eleitor. É na rua, nas caminhadas, que o clima da campanha aparece na plenitude, digamos assim. E, uma vez na rua, mais do que os passos largos e acenos e cumprimentos rápidos, o ápice é o abraço forte no povão. Até parece que é um encontro de velhos amigos – o cidadão simples e o caçador de votos.

Tudo bem que os tempos são de tecnologia digital no mais extremado avanço que já se viu. E por que isso agora? É porque a era do virtual é tão acachapante que tem gente pensando que tudo está na tela de um telefone celular. Tudo é rede social e interação. Sendo assim, pode-se ganhar uma eleição pelo contato virtual, das redes. Seria o atestado de morte das campanhas tradicionais, que existem desde que as eleições foram inventadas.

Mas não. É na rua, no corpo a corpo, sim, que um bom candidato ainda tem muito a ganhar. É por isso que, mesmo com tanta novidade, a campanha tem mais cara de campanha pra valer quando vemos aquela muvuca de apertos de mão, beijos e abraços entre candidatos e eleitores. Em algumas situações, sai até choro nesses inusitados encontros de seres de verdade com seres da política. E nem a pandemia do novo coronavirus foi capaz de barrar essa tradição milenar.  

Por isso, seja qual for a sua cidade, tão certo quanto a madrugada sucede a noite, pode apostar que um candidato vai passar por aí. Se não der para ele atravessar precisamente a rua em que você mora, estará nos arredores da praça que fica logo ali. A campanha está em todos os meios, do adesivo para carro ao vídeo zoeira no WhatsApp. Mas antes dessa operação “midiática”, tudo começa, ganha força e se expande no meio da rua. Ainda não se inventou nada que substitua essa antiga (e singela) forma de pedir votos.