Religiões de matriz africana são as que mais sofrem intolerância em Alagoas
Conforme a OAB/AL, das denúncias recebidas pela Comissão de Igualdade Racial em 2022, todas eram dessa natureza

Neste sábado (21), é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que marca a luta contra o preconceito e violência. Em Alagoas, dados da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) mostram que as denúncias são sempre contra praticantes de religiões de matriz africana.
“Recebemos cinco denúncias durante o ano passado e os casos recebidos são sempre relacionados às religiões de matriz africana. Infelizmente, sabemos que há subnotificação devido a todo o estigma e preconceito que as religiões de matriz africana carregam. As vítimas muitas das vezes sofrem uma revitimização durante o processo judicial e também pela falta de efetiva punibilidade para os autores do crime”, afirmou Ana Clara Alves, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/AL.
Atualmente, a Delegacia Especial dos Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina investiga dois casos de intolerância religiosa registrados na capital alagoana. A delegacia, inaugurada em agosto do ano passado, atende e orienta as vítimas de intolerância racial, preconceito religioso e de gênero e crimes contra outras minorias.
Para o historiador, pesquisador da cultura afro-brasileira Célio Rodrigues, também conhecido como ‘Pai Célio’, a palavra que representa o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa é o respeito.
“Acho ridículo as pessoas julgarem, fazerem seu preconceito sem conceitualizar. Elas devem estudar, compreender e aí teremos um país bem melhor. Entendendo as religiões de matriz africana vai entender uma série de outras coisas que estão ao redor de todo segmento da sociedade alagoana e brasileira. Eu não quero ser tolerado, quero ser respeitado”, afirmou.
Segundo Pai Célio, episódios de intolerância religiosa são registrados diariamente. “Os ataques não ocorrem só de forma verbal ou de forma corporal, ocorrem também através de um olhar, de uma forma de expressão. Então, eu sofro todo dia, basta eu sair na rua com a minha indumentária. Os olhares são diversos e a gente tem que ser forte, tem que ser perseverante, para não reagir da mesma forma. Vários casos, todos os dias ocorrem, só que, infelizmente, as pessoas não atinavam para um pensamento jurídico. Hoje, esses casos estão sendo registrados pela delegacia Tia Marcelina, que é a forma de reagir, que está reverberando de uma forma positiva”, disse.
Data é criada para promover respeito, tolerância e diálogo
O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado neste sábado, teve a data escolhida em homenagem à Yalorixá Mãe Gilda, que foi vítima desse tipo de intolerância no final de 1999 e em referência ao Dia Mundial da Religião, com o intuito de promover respeito, tolerância e diálogo entre as diversas religiões.
VANDALISMO
No ano passado, imagens e igreja católica foram alvos de vandalismo, em Maceió. No final de novembro, a imagem de Nossa Senhora das Graças, que fica em frente ao prédio da Associação Comercial, no bairro do Jaraguá, foi pichada de tinta vermelha.
Já no mês de agosto, a imagem de Nossa Senhora das Graças, que fica no bairro da Levada, foi destruída por vândalos. Em junho, outra imagem de Nossa Senhora das Graças, que ficava instalada na praça do Salvador Lyra, foi totalmente destruída por vândalos, na parte alta de Maceió.
No mesmo mês, a Igreja Senhor do Bonfim, localizada no bairro do Poço, também foi invadida por vândalos. O prédio foi arrombado e objetos e artigos religiosos foram revirados. O vinho usado na consagração das hóstias durante a missa foi tomado.